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unnamedpaz

Transitória por natureza, a guerra parece durar para sempre. Ao serviço da morte, zomba dos vivos. Permite que os homens façam aquilo que, em tempos normais, não teriam o direito de fazer: realizar-se através da crueldade. Satisfação coletiva e individual de impulsos inconscientes, a guerra é uma parte demasiado importante da história para ser eliminada de vez.

A vida no nosso planeta seria muito mais fácil se homens e nações pudessem simplesmente viver em paz. Mas, ao que parece, não podem. Será porque não estão habituados a isso? Ou porque precisam de simplificações? Na verdade, a guerra simplifica tudo; as opções tornam-se limitadas. A fronteira que separa o bem e o mal amplia-se: de um dos lados, tudo parece justo; do outro lado, tudo é injusto. Não há necessidade de se pensar muito — ninguém se preocupa com subtilezas em tempos de guerra; a única coisa que importa é a guerra. O próprio tempo lhe está subordinado.

Se ao menos pudéssemos celebrar a paz como os nossos antepassados celebraram a guerra... Se pudéssemos glorificar a paz como aqueles que vieram antes de nós, sedentos de aventura, glorificaram a guerra... Se os nossos sábios e estudiosos pudessem edificar a paz com a mesma energia e inspiração com que outros desencadearam as guerras...

Porque é a guerra uma opção tão fácil? Por que motivo a paz continua a ser uma meta inatingível? Conhecemos estadistas profundamente versados em estratégia militar, mas onde estão aqueles que se interessam o bastante pela humanidade para encontrarem formas de evitar os conflitos armados? Toda a nação tem as suas prestigiadas academias militares. Porque não existem academias, universidades, institutos, que ensinem não só as virtudes da paz, mas também a arte de a alcançar? De a alcançar e preservar por outros meios que não as armas, as ferramentas da guerra. E porque ficamos surpreendidos sempre que a guerra recua e dá lugar à paz?

Infelizmente, somos forçados a reconhecer que a guerra parece inerente à condição humana. Em tempos de conflito, tentam fazer-nos acreditar que todo aquele que não é nosso irmão é nosso inimigo: ficamos proibidos de ouvir o íntimo dos nossos corações, de sermos compassivos, ou até de nos deixarmos levar pela nossa imaginação. Se o soldado imaginasse o sofrimento que está prestes a causar, estaria menos disposto a combater. Se considerasse o inimigo uma vítima em potencial — e, portanto, capaz de chorar, de se desesperar, de morrer — a relação entre eles mudaria. Mas tudo está preparado para sufocar o impulso de humanidade e a capacidade de experimentar um sentimento fraterno em relação ao próximo.

Ainda assim, não devemos esquecer. Não há justificação para esquecer. Se tivéssemos de esquecer o passado para obter a paz, não gostaria de ter nada a ver com essa paz. Esta não poderia ser senão uma mentira. Só poderia induzir em nós uma passividade perigosa.

O que nos diz a nossa memória? Mostra-nos hoje como se tornaram absurdas as conquistas territoriais. O território, a obsessão estratégica dos militares da velha guarda, tornou-se, nos tempos atuais, apenas um sonho. As palavras "dominação" e "supremacia" abandonaram o vocabulário das cúpulas e agora são ouvidas no mundo das finanças. O imperialismo, político ou ideológico, está ultrapassado. Nada resta dos impérios de Napoleão ou dos czares. O que ficou da ambição totalitária de Estaline? Quanto ao Terceiro Reich, que duraria mil anos, hoje o seu nome, em vez de admiração e inveja, desperta apenas horror e vergonha.

A memória é uma fonte de angústia, mas pode tornar-se uma fonte de esperança. E também nos lembra que, doravante, a guerra será sem glória e sem futuro; não deixará conquistadores, mas apenas vítimas.

J. Robert Oppenheimer expressou isso apropriadamente no seu testemunho perante um comité do Congresso em Washington. Questionado sobre o que deveríamos fazer para evitar uma guerra nuclear, ele respondeu de forma concisa: "Façam a paz".

Elie Wiesel, (Excertos)

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Os comentários estão fechados para esta entrada de blog

Comentário de Margarida Maria Madruga em 13 abril 2022 às 22:30

Excelente texto. Sábio, porém quase que totalmente inútil para os ignorantes de plantão.Obrigada.

Comentário de Conceição Valadares em 9 abril 2022 às 10:06

Adorei Adul a sua partilha, como é que poderemos acabar com a guerra se os nossos corações estão sempre em guerra, todos temos muito que aprender meu amigo.

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