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Para aprender o segredo do papagaio que voa para lá dos céus, Feng vai à procura de um sábio, de quem se diz que é o senhor do vento. Mas irá precisar de interioridade e de perseverança até que o seu próprio papagaio consiga acariciar as nuvens.
Feng, pequeno camponês chinês, era apaixonado por papagaios de papel.
Um dia, soube que, num mosteiro longínquo, vivia um sábio de quem se dizia que era o dono do vento. Só ele conhecia o segredo do papagaio que voa lá alto nos céus.
Feng pediu licença aos pais para ir procurar o velho homem para que este lhe ensinasse todos os segredos.
Após uma longa caminhada, Feng chegou ao mosteiro e pediu para falar com o sábio.
— Por favor, ensina-me a tua arte. Aceita-me no teu atelier.
O mestre respondeu:
— Um leão que imita um leão não o é verdadeiramente. Só o homem que procura é que inventa e progride. Se queres encontrar a melhor maneira de construir um papagaio, observa à tua volta as folhas e o vento...
Feng seguiu o conselho do mestre: observou a Natureza.
— Mestre, diz-me o segredo para tornar o papagaio mais estável.
— Olha para o voo da libélula — respondeu-lhe o mestre.
Depois de contemplar longamente os graciosos insetos, Feng acabou por criar uma obra-prima de equilíbrio.
— Mestre, diz-me o segredo para manejar melhor o papagaio.
— Observa o voo do milhafre — disse-lhe o mestre.
Feng subiu à montanha e estudou o voo dessa ave de rapina.
A partir das suas observações, construiu um papagaio cujo voo era de uma leveza nunca vista.
— Mestre, diz-me o segredo para o papagaio mais veloz.
— Atenta no voo da andorinha — respondeu-lhe o mestre.
Feng observou a curva da asa da andorinha, a sua extremidade afiada.
Então, criou um papagaio, ágil brinquedo de papel nas suas mãos.
A sua arte valeu-lhe em breve os favores dos senhores ricos, que admiravam, seduzidos, a perfeição dos pássaros de papel. Mas Feng sabia que não podia igualar a arte do velho sábio... Faltava-lhe «o segredo».
Foi de novo ter com o ancião, que estava doente.
— Mestre, observei tudo como me ensinaste, mas não encontrei o segredo do papagaio que voa para lá dos céus.
— Ainda não estás pronto...
Feng insistiu.
— Continua a procurar! — exortou o velho.
Durante muitos anos, Feng redobrou de esforços, tentou ser mais consciencioso nos seus gestos, mais atento ao seu trabalho, mas nada conseguiu: os seus papagaios atingiam as alturas, acariciavam as nuvens, mas não voavam para lá dos céus.
— Mestre, sou um ignorante! — confessou Feng.
— Regressa amanhã com o fio mais comprido que encontrares — disse o mestre.
Feng passou a noite a atar fios uns aos outros.
No dia seguinte, agitado, desejoso de conhecer finalmente «o segredo», apresentou-se no mosteiro. O mestre tinha morrido.
E, enquanto Feng se recolhia junto do corpo do sábio, a alma do velho mestre voou, levando consigo uma das extremidades da corda do carreto...
Bem para lá dos céus...
O apego à matéria limita. Só o silêncio interior permite o despertar.
Thierry Dedieu
Feng
Paris, Seuil Jeunesse, 1997
(Tradução e adaptação)
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Se queres encontrar a melhor maneira de construir um papagaio, observa à tua volta as folhas e o vento..
Maravilhoso texto Adul!!! Grata pela sua partilha
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