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Era uma vez um monge que tinha passado vinte anos a estudar mantras, cantando-os segundo os textos sagrados, no mais seleto mosteiro do Japão. Um dia, a caminho de outro mosteiro, passou junto à margem de um lago.

Enquanto caminhava pela margem, ouviu o som de uns cânticos que vinham de uma ilha no meio do lago. Deteve-se e escutou, para logo a alma lhe cair aos pés. É que, com toda a preparação que tinha, podia afirmar, sem sombra de dúvida, que quem quer que fosse que estivesse na ilha jamais havia aprendido a cantar corretamente. Pensou de si para si que não podia deixar esse pobre monge a desperdiçar a sua vida cantando assim tão mal e erradamente.

"Isto não lhe faz bem nenhum."

Tinha ainda um longo caminho a percorrer e estava com um pouco de pressa, mas, como era um homem compassivo, olhou em volta e viu um pequeno barco que logo usou para remar até à ilha. Quando lá chegou, viu-se perante um monge gorducho que cantava e cantava com um enorme sorriso estampado no rosto.

— Irmão, — disse-lhe o monge viajante — perdoai-me se vos interrompo. Sei que a vossa intenção é boa, mas passei os últimos vinte anos no melhor mosteiro do Japão e posso assegurar-vos que estais a cantar muito mal.

— Oh, irmão, irmão, por favor ensinai-me! — disse o monge gorducho, ansioso como um cachorrinho.

— Bom, — disse o monge viajante — vereis, é assim: primeiro tendes de levantar as mãos (e levantou as mãos num gesto e postura estilizados); e a respiração é do seguinte modo (e começou, ruidosamente, a inspirar por uma narina e a expirar pela outra); e o canto deve ser assim (e começou a cantar do modo prescrito).

O monge da ilha fez tudo o que pôde para seguir as instruções, mas parecia que não era muito brilhante e demorava mesmo muito tempo para À medida que as horas passavam, o monge viajante estava cada vez mais desejoso de partir, para poder chegar ao seu destino ainda antes do anoitecer. Finalmente, pareceu-lhe que o monge da ilha tinha mais ou menos conseguido captar a técnica, e o monge viajante disse-lhe, impaciente:

— Estupendo, irmão! Continuai a cantar assim por uns trinta anos e notareis verdadeiramente a diferença.

E dirigiu-se rapidamente para o barco, onde começou, sem demora, a remar em direção à margem do lago.

Ora, quando já se encontrava a meio caminho de distância de terra firme, ficou literalmente de boca aberta, deixando mesmo cair os remos à água.

É que, correndo SOBRE AS ÁGUAS, em direção a ele, vinha o monge da ilha, que, mal se abeirou do barco, lhe disse:

— Oh, irmão, irmão, perdoai-me todo este incómodo, mas será que me podíeis explicar mais uma vez como era o mantra?

Tim Bowley
Semillas al viento: cuentos del mundo
= Seeds on the wind: stories from around the world
Madrid: Raíces, 2001
(tradução e adaptação)

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Comentário de Marta Maria (adm) em 14 março 2020 às 23:24

Todo aprendizado vem da força de vontade... belo conto. Beijinhos.

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