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Era uma vez um general. Chamava-se General Jodhpur. O seu sonho era ser o general mais famoso do mundo e ter um exército admirado por generais de todos os outros países. Assim, mantinha os soldados sempre ocupados a limpar as armas, a brunir os uniformes, e a polir os distintivos e as botas.
Todas as manhãs, bem cedo, mal o sol despontava, os soldados tinham de comparecer na parada elegantemente ataviados e prontos a praticar a marcha. Depois de marcharem, os soldados dividiam‑se em vários grupos. Os cozinheiros iam para a cozinha para preparar as refeições e a cavalaria ia até aos estábulos para alimentar e tratar dos cavalos. Os restantes soldados dirigiam-se à carreira de tiro para praticar e os oficiais certificavam-se de que todos desempenhavam as suas tarefas de forma correta.
À noite, quando o acampamento estava sossegado, o General Jodhpur gostava de ficar acordado até tarde a ler sobre os outros generais, e acerca das famosas batalhas que os exércitos deles tinham ganhado. Como ansiava pelo dia em que ele e o seu exército fossem tão famosos que alguém escreveria um livro sobre eles...
Numa manhã de domingo, enquanto Jodhpur cavalgava pelo campo no seu grande corcel branco, uma raposa vermelha e brilhante atravessou-se no seu caminho. O cavalo assustou‑se tanto que logo se empinou, atirando o General ao chão, após o que desatou a galopar pela floresta. O general não ficou ferido, porque aterrou em relva macia. Tão macia e tão perfumada que, para sua surpresa, não sentia vontade alguma de sair dali. Pegou num fiozinho de erva, pô-lo entre os dentes, e estirou-se ao sol. Passado algum tempo, decidiu que era altura de voltar para o acampamento. Relutantemente, levantou-se e estugou o passo.
Embora tivesse cavalgado por aquele lugar muitas vezes, reparava agora em pormenores que nunca vira antes, porque andava sempre demasiado depressa. Viu esquilos e coelhos, ratos do campo, ouriços-cacheiros, andorinhas e pombos. Até viu um pavão e ouviu os pássaros a cantar. De repente, o general viu-se num campo cheio de belas flores. Nunca na vida contemplara nada mais belo! Havia muitos mais tipos de flores do que alguma vez imaginara, e mais cores do que as que um artista podia conceber.
Jodhpur ficou imóvel por uns instantes e depois atravessou o campo lentamente para se sentar no meio das flores. Observou as abelhas a procurar o pólen para fazer mel. Pensou até que uma aterraria no seu nariz, mas os insetos estavam demasiado ocupados para repararem num general, por muito famoso que fosse. Observou as flores e as abelhas durante muito tempo. Era tudo tão tranquilo… Por que razão nunca teria reparado nestas coisas antes? Quando, por fim, se levantou, deu-se conta, com tristeza, de que estivera sentado sobre algumas flores, que pareciam agora tristes e murchas. Não queria deixar as flores, mas tinha de voltar para os seus soldados. Decidiu, então, apanhar duas.
Estava já escuro quando entrou no acampamento. Colocou as duas flores num copo de água junto da janela do quarto e deitou-se. Nessa noite, sonhou com as coisas maravilhosas que vira durante o dia – os pássaros, os animais, o sol e a flores. De repente, milhares de soldados marcharam sonho adentro. Faziam tanto barulho que os pássaros e os animais fugiram aterrorizados. As botas dos soldados esmagaram as bonitas flores. O general acordou, furioso.
— Parem! Parem! — gritou, furioso, para os soldados.
Depois deu-se conta que tudo não passava de um sonho. Tentou adormecer de novo, mas não conseguiu. Percebeu então que ele e os soldados haviam pisado milhares de flores e assustado um sem número de animais… Quantas vezes?
— Nunca mais assustarei ou ferirei seja o que for — prometeu a si mesmo. — Tentarei ajudar os animais e cuidar das flores, das plantas, e de tudo o que cresce.
Na manhã seguinte, disse aos soldados que queria que abandonassem o exército e que regressassem aos seus empregos e famílias. Pediu-lhes que o ajudassem a transformar o seu país no mais belo do mundo. Ficaram todos muito felizes. Mas ninguém ficou mais feliz do que o General Jodhpur. Os agricultores começaram a arar os campos e a plantar sementes para a colheita vindoura. Os pescadores recuperaram as suas redes e fizeram-se ao mar. O general ordenou que transformassem o acampamento numa bela cidade, com lojas, escolas e parques onde as crianças pudessem brincar.
Jodhpur sentia-se muito excitado com tudo o que estava a acontecer. Quando visitava os seus homens para ver o progresso dos trabalhos, o que fazia diariamente, todos ficavam contentes por o verem. E todos os dias regressava ao local onde primeiro vira as flores. Era agora inverno e já não havia flores. Contudo, o general gostava de olhar o campo onde elas tinham estado e de sentir a terra nas mãos. Sabia que voltariam na primavera. Por fim, o inverno acabou e as flores regressaram ao campo. Apareceram novas folhas verdes nas árvores e as sementes plantadas nos campos começaram a deitar rebentos. O milho cresceu e tornou-se verde e a fruta amadureceu nos pomares. Todas as manhãs, os pescadores cantavam ao embarcar nos seus barcos rumo ao mar brilhante.
Certa manhã, o general recebeu duas cartas que pareciam importantes. Uma era do famoso General Nicolai Marcovitch, que habitava na parte oriental do mundo. A outra era do igualmente famoso General Custard, que morava na parte ocidental do mundo. Ambos queriam ver as coisas estranhas que lhes haviam contado sobre o país do General Jodhpur.
O general convidou-os de imediato a visitá-lo e a inspecionar o país. Quando os dois generais chegaram, foram recebidos por uma banda. Em seguida, cheio de orgulho, Jodhpur levou-os a visitar o país. Mostrou-lhes os pomares, as florestas, os campos cheios de legumes e de cereais, e a bela cidade com parques e áreas de recreio. Os generais visitantes deram‑se conta que as pessoas viam os animais como amigos, e de que nunca os intimidavam ou caçavam. Finalmente, o General Jodhpur levou-os ao local onde vira as flores pela primeira vez. Os campos pareciam agora cobertos por um lençol multicolorido. Os três generais sentaram-se com cuidado, para não estragar as flores e sorriram uns para os outros.
— Que ideia maravilhosa, Jodhpur — comentou o General Custard. — O senhor transformou o seu país no mais belo do mundo.
— E o seu povo no mais feliz de todos — acrescentou o General Marcovitch.
E em uníssono, afirmaram:
— General Jodhpur, o senhor é o general mais famoso do mundo!
E o General Mais Famoso do Mundo deitou-se no campo de flores e sorriu para o sol.
Michael Foreman
The general
Dorking, Templar Publishing, 2010
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Não acho que seja utopia. Quando queremos podemos mudar e ainda mudar as pessoas.
É um conto, mas que nos leva a acreditar que podemos mudar sim, basta nos darmos conta da vida utópica e sem sentido que vivemos. Parabéns Adul !... beijinhos
Uma utopia! Que pena!
Que pena que todos os governantes do mundo inteiro não pensem assim. Obrigada Adul pelo belíssimo texto pois me fez sonhar num mundo melhor. Beijinhos
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