Global Social

aloja0

aloja1

Certa manhã, os habitantes da cidade repararam que, na praça central, tinha surgido uma pequena chapelaria, sem que ninguém pudesse dizer como ou de onde viera.

— Mas quem precisará de chapéus? — interrogou-se um transeunte, enquanto outros acrescentavam, indignados:

— É de muito má educação aparecer assim do nada!

E todos olhavam para a loja de soslaio, desconfiados de tudo o que pudesse perturbar a rotina tranquila da sua cidade.

A primeira pessoa que se atreveu a entrar na loja foi um jovem chamado Tomás Tímido. Tomás era tão envergonhado que nunca falava com ninguém e tentava sempre passar despercebido.

aloja2

Contudo, quando alguns minutos mais tarde transpôs a porta, Tomás trazia na cabeça um belo chapéu e tudo nele tinha mudado.

Dantes, o rapaz caminhava sempre com os ombros descaídos e com os olhos fixos no chão. Agora, parecia ter crescido alguns centímetros e tinha uma postura completamente diferente. Caminhava com as costas direitas, o queixo erguido, e cumprimentava todas as pessoas com quem se cruzava, que o fitavam atónitas.

aloja3

A pouco e pouco, os habitantes da cidade foram-se enchendo de coragem para entrarem na pequena loja. No início, faziam-no por curiosidade e furtivamente, não fosse alguém vê-los. Porém, mal emergiam da chapelaria com chapéus novos na cabeça, todos pareciam ter sofrido uma transformação admirável.

aloja4

Começaram, então, a correr rumores de que os chapéus eram mágicos, e de que ajudavam a revelar as características mais surpreendentes de cada um, além de os aliviar dos seus problemas.

Tânia Triste tinha-se já esquecido de sorrir, por falta de prática. Todavia, mal pôs um chapéu novo na cabeça, começou logo a saudar cada dia com gargalhadas de alegria, espalhando bem-estar entre todos à sua volta.

Antes de Maurício Mesquinho ter comprado um chapéu novo, nunca pensara em ninguém além de si mesmo. Agora, tinha sempre a porta de casa aberta para quem quisesse ir tomar chá, partilhar problemas, ou apenas sentar-se para dois dedos de conversa.

As pessoas comentavam que o chapeleiro nunca dizia palavra, mas que ouvia atentamente os clientes, antes de aconselhar o chapéu adequado para cada um.

aloja5

O presidente da câmara, que se achava o mais importante dos habitantes da cidade, autointitulava-se o Grande Granadeiro.

Certa manhã, depois de ter conversado com o chapeleiro acerca de todas as obras maravilhosas que tinha realizado, o Grande Granadeiro perguntou:

— Acha que terá por aí um chapéu digno de uma celebridade como eu?

aloja6

O chapeleiro, que o tinha escutado com toda a atenção, como, aliás, fazia com todos os clientes, piscou o olho e acenou afirmativamente.

Pouco depois, o Grande Granadeiro saiu da loja com um enorme sorriso estampado no rosto. O novo chapéu fazia-o sentir menos grandioso mas infinitamente mais feliz.

aloja7

Sem dúvida que a vida da cidade se alterara desde a chegada do misterioso chapeleiro e da sua loja mágica.

As pessoas não queriam tirar os chapéus e usavam-nos em todo o lado: em casa, na rua, quando comiam, quando se beijavam, quando iam para a cama, ou mesmo quando tomavam um duche.

Certo dia, porém, a cidade foi varrida por uma tempestade fortíssima. Um vento feroz arrancou as folhas todas das árvores, e os chapéus voaram de todas as cabeças para nunca mais serem vistos.

Na manhã seguinte, depois de a tempestade ter amainado, os habitantes da cidade deram-se conta de que o vento não só arrebatara os chapéus mas também levara a pequena loja. A única coisa que sobrara do chapeleiro fora o seu chapéu de coco.

aloja8

O silêncio envolveu a cidade como se fosse um espesso manto de nevoeiro. Todos se sentiam despidos e frágeis sem os seus chapéus.

— Não quero voltar a ser tímido! — disse Tomás, de repente. — E acho que não precisamos de chapéus mágicos para sermos as pessoas que queremos ser!

aloja9

— És muito corajoso! — admirou-o o Grande Granadeiro. — Darias um presidente bem melhor do que eu — acrescentou em voz baixa.

E logo Maurício Mesquinho acrescentou:

— Penso que, se nos ajudarmos mutuamente, podemos realizar esse nosso anseio.

aloja10

A Tânia Triste, que deixara de ser triste, deu o braço ao Tomás Tímido, que deixara de ser tímido, e começaram a dançar juntos. Em breve, todos os habitantes da cidade podiam ser vistos a cantar e a dançar pelas ruas.

Quanto ao chapeleiro, nunca mais ouviram falar dele. Alguns diziam que o vento o tinha levado para longe, juntamente com a sua pequena loja.

Outros eram de opinião de que se tinha sumido dentro do chapéu de coco, e que reapareceria um dia, noutro lugar, para vender de novo os seus chapéus mágicos...

aloja11

Sonja Wimmer
The Magic Hat Shop
Cuento de Luz, 2016
(Tradução e adaptação)

Visualizações: 50

Os comentários estão fechados para esta entrada de blog

Comentário de Margarida Maria Madruga em 31 janeiro 2022 às 20:14

Em muitas situações do viver precisamos de uma bengala, de um chapéu. Eu estou precisando muito de um chapéu mágico.
Mas, nada dura para sempre. Tudo nos transforma e no meu caso quero que seja para melhor.
Que cada lágrima seja somada a minha sabedoria e aprendizado.
Obrigada pelo conto. Muito bom.

Comentário de Marta Maria (adm) em 29 janeiro 2022 às 23:26

Ah como gostaria de um chapéu desses rs..., mas a moral da historia está dentro de nós mesmo. Ser feliz, educado, saber sorrir, só depende de cada um de nós, pois somos Somos tantos sentimentos em uma única alma.

Fale com os membros

Ola deixe apenas uma mensagem por dia pois por limitações só são guardadas as ultimas 100 mensagens.

Membros da Rede

Menu de Funcionalidades

Membros
Fotos/Videos/Blog
Entretenimento/Ajuda

© 2024   Criado por Adul Rodri (Adm)   Produzido Por

Badges  |  Relatar um incidente  |  Termos de serviço

Registe-se Juntos fazemos a diferença!