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Certa manhã, os habitantes da cidade repararam que, na praça central, tinha surgido uma pequena chapelaria, sem que ninguém pudesse dizer como ou de onde viera.
— Mas quem precisará de chapéus? — interrogou-se um transeunte, enquanto outros acrescentavam, indignados:
— É de muito má educação aparecer assim do nada!
E todos olhavam para a loja de soslaio, desconfiados de tudo o que pudesse perturbar a rotina tranquila da sua cidade.
A primeira pessoa que se atreveu a entrar na loja foi um jovem chamado Tomás Tímido. Tomás era tão envergonhado que nunca falava com ninguém e tentava sempre passar despercebido.
Contudo, quando alguns minutos mais tarde transpôs a porta, Tomás trazia na cabeça um belo chapéu e tudo nele tinha mudado.
Dantes, o rapaz caminhava sempre com os ombros descaídos e com os olhos fixos no chão. Agora, parecia ter crescido alguns centímetros e tinha uma postura completamente diferente. Caminhava com as costas direitas, o queixo erguido, e cumprimentava todas as pessoas com quem se cruzava, que o fitavam atónitas.
A pouco e pouco, os habitantes da cidade foram-se enchendo de coragem para entrarem na pequena loja. No início, faziam-no por curiosidade e furtivamente, não fosse alguém vê-los. Porém, mal emergiam da chapelaria com chapéus novos na cabeça, todos pareciam ter sofrido uma transformação admirável.
Começaram, então, a correr rumores de que os chapéus eram mágicos, e de que ajudavam a revelar as características mais surpreendentes de cada um, além de os aliviar dos seus problemas.
Tânia Triste tinha-se já esquecido de sorrir, por falta de prática. Todavia, mal pôs um chapéu novo na cabeça, começou logo a saudar cada dia com gargalhadas de alegria, espalhando bem-estar entre todos à sua volta.
Antes de Maurício Mesquinho ter comprado um chapéu novo, nunca pensara em ninguém além de si mesmo. Agora, tinha sempre a porta de casa aberta para quem quisesse ir tomar chá, partilhar problemas, ou apenas sentar-se para dois dedos de conversa.
As pessoas comentavam que o chapeleiro nunca dizia palavra, mas que ouvia atentamente os clientes, antes de aconselhar o chapéu adequado para cada um.
O presidente da câmara, que se achava o mais importante dos habitantes da cidade, autointitulava-se o Grande Granadeiro.
Certa manhã, depois de ter conversado com o chapeleiro acerca de todas as obras maravilhosas que tinha realizado, o Grande Granadeiro perguntou:
— Acha que terá por aí um chapéu digno de uma celebridade como eu?
O chapeleiro, que o tinha escutado com toda a atenção, como, aliás, fazia com todos os clientes, piscou o olho e acenou afirmativamente.
Pouco depois, o Grande Granadeiro saiu da loja com um enorme sorriso estampado no rosto. O novo chapéu fazia-o sentir menos grandioso mas infinitamente mais feliz.
Sem dúvida que a vida da cidade se alterara desde a chegada do misterioso chapeleiro e da sua loja mágica.
As pessoas não queriam tirar os chapéus e usavam-nos em todo o lado: em casa, na rua, quando comiam, quando se beijavam, quando iam para a cama, ou mesmo quando tomavam um duche.
Certo dia, porém, a cidade foi varrida por uma tempestade fortíssima. Um vento feroz arrancou as folhas todas das árvores, e os chapéus voaram de todas as cabeças para nunca mais serem vistos.
Na manhã seguinte, depois de a tempestade ter amainado, os habitantes da cidade deram-se conta de que o vento não só arrebatara os chapéus mas também levara a pequena loja. A única coisa que sobrara do chapeleiro fora o seu chapéu de coco.
O silêncio envolveu a cidade como se fosse um espesso manto de nevoeiro. Todos se sentiam despidos e frágeis sem os seus chapéus.
— Não quero voltar a ser tímido! — disse Tomás, de repente. — E acho que não precisamos de chapéus mágicos para sermos as pessoas que queremos ser!
— És muito corajoso! — admirou-o o Grande Granadeiro. — Darias um presidente bem melhor do que eu — acrescentou em voz baixa.
E logo Maurício Mesquinho acrescentou:
— Penso que, se nos ajudarmos mutuamente, podemos realizar esse nosso anseio.
A Tânia Triste, que deixara de ser triste, deu o braço ao Tomás Tímido, que deixara de ser tímido, e começaram a dançar juntos. Em breve, todos os habitantes da cidade podiam ser vistos a cantar e a dançar pelas ruas.
Quanto ao chapeleiro, nunca mais ouviram falar dele. Alguns diziam que o vento o tinha levado para longe, juntamente com a sua pequena loja.
Outros eram de opinião de que se tinha sumido dentro do chapéu de coco, e que reapareceria um dia, noutro lugar, para vender de novo os seus chapéus mágicos...
Sonja Wimmer
The Magic Hat Shop
Cuento de Luz, 2016
(Tradução e adaptação)
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Em muitas situações do viver precisamos de uma bengala, de um chapéu. Eu estou precisando muito de um chapéu mágico.
Mas, nada dura para sempre. Tudo nos transforma e no meu caso quero que seja para melhor.
Que cada lágrima seja somada a minha sabedoria e aprendizado.
Obrigada pelo conto. Muito bom.
Ah como gostaria de um chapéu desses rs..., mas a moral da historia está dentro de nós mesmo. Ser feliz, educado, saber sorrir, só depende de cada um de nós, pois somos Somos tantos sentimentos em uma única alma.
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