Global Social

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Este livro é dedicado a todas as crianças que estão perdidas e sozinhas, e às pessoas que as ajudam.

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No dia em que a guerra chegou, havia flores no peitoril da janela, e o meu pai cantava uma canção de embalar para adormecer o meu irmãozinho.
A minha mãe fez o pequeno-almoço e acompanhou-me à escola.

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Nessa manhã, aprendi coisas sobre vulcões, cantei uma canção sobre girinos e sapos, e desenhei um pássaro.

A guerra chegou logo a seguir ao almoço.

No início, parecia um salpico de granizo, uma voz de trovão...

Depois, toda ela era fumo, fogo e ruído, nada que eu pudesse compreender.

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A guerra espalhou-se pelo recreio.

Atingiu a cara da minha professora.

Fez desabar o telhado e transformou a minha cidade em escombros.

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Não tenho palavras para descrever o buraco negro em que a minha casa se transformou.

Tudo o que posso dizer é que a guerra destruiu tudo e todos.

Vi-me coberta de farrapos e de sangue, e completamente sozinha.

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Desatei a correr.

Percorri campos, estradas e montanhas, sempre cheia de frio, e coberta de lama e de chuva.

Viajei nas traseiras de camiões e em autocarros.

Andei num barco, cujo fundo vertia, e que quase se afundou.

E atravessei uma praia coberta de sapatos que jaziam vazios na areia...

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Corri até mais não poder.

Por fim, cheguei a uma fileira de cabanas. Numa delas, cuja porta batia com o vento, aninhei-me a um canto e cobri-me com um cobertor sujo.

Mas a guerra não me dava tréguas.

Estava debaixo da minha pele, por detrás dos meus olhos, e nos meus pesadelos. Tinha até tomado conta do meu coração.

Caminhei para tentar expulsar a guerra de dentro de mim, para tentar encontrar um lugar onde ela não tivesse chegado.

Mas a guerra estava presente nas portas que se fecharam quando eu cheguei à rua, nas pessoas que não sorriram e me viraram costas.

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Cheguei junto de uma escola e espreitei pela janela.

Os alunos aprendiam coisas sobre vulcões, cantavam e desenhavam pássaros.

Entrei no edifício e os meus passos ecoaram no corredor da entrada.

Empurrei a porta e todos os rostos se viraram para mim. Contudo, a professora não sorriu e disse:

— Aqui não há lugar para ti. Como podes ver, nem sequer há cadeira para te sentares. Tens de te ir embora.

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Compreendi, então, que a guerra também tinha chegado a esta sala de aula.

Regressei à cabana, e meti-me, de novo, debaixo do cobertor sujo.

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A guerra parecia ter atingido tudo e todos.

A porta bateu. Julguei que era o vento, até que ouvi a voz de uma criança:

— Trouxe-te isto para poderes ir à escola.

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Era uma cadeira. Uma cadeira para eu me sentar e aprender coisas sobre vulcões, cantar e desenhar pássaros.

E para poder expulsar a guerra do meu coração.

O menino sorriu e disse:

— Os meus amigos também trouxeram cadeiras, para que todas as crianças daqui possam ir à escola.

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Saíram crianças de todas as cabanas e percorremos juntas uma estrada ladeada por cadeiras.

E cada um dos nossos passos empurrava a guerra para cada vez mais longe...

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Nota da Autora

Ouvi, um dia, uma história acerca de uma criança que entrou numa escola perto de um campo de refugiados e a quem mandaram embora, por não haver cadeira para ela se sentar. No dia seguinte, a criança apareceu de novo na escola, com uma cadeira partida, e pediu que a deixassem entrar.

Não me recordo de onde ouvi este relato, mas a verdade é que permaneceu na minha memória, misturado com tudo o que tenho ouvido nos últimos meses acerca de famílias de refugiados e de crianças sozinhas. Desejo, por isso, que esta história possa recordar-nos a todos o poder da bondade, e nos transmita a esperança de um futuro melhor.

Nicola Davies, Rebecca Cobb (ill.)
The day war came
Candlewick, 2018
(Tradução e adaptação)

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Os comentários estão fechados para esta entrada de blog

Comentário de Margarida Maria Madruga em 6 abril 2022 às 16:49

Se não houver acolhimento, como haverá um novo começo?

Comentário de Elodina Nunes em 27 março 2022 às 22:01

Ola boa tarde amiga temos que transmitir bondade para nossas crianças ter um futuro melhor para elas poder viver mais feliz neste mundo, bjsssss

Comentário de Therezinha Sant' Anna em 27 março 2022 às 18:26

Obrigada querido Adul por partilhar esta história.

Comentário de Conceição Valadares em 27 março 2022 às 17:30

Uma historia bastante comovente e que infelizmente pode ser uma realidade.

Comentário de Elodina Nunes em 27 março 2022 às 16:47

Boa tarde meu querido amigo, a guerra é uma coisa muito triste para as pessoas que morrem numa guerra e traz muitos sofrimentos para todas as pessoas também para nossas crianças órfãs.

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