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Histórias de vida

Duas semanas após o início do primeiro ano da faculdade, chegou um novo aluno para a nossa turma de biologia. Chamava-se Kyle. Após algumas semanas de aulas, Kyle pediu-me namoro. E eu, radiante, aceitei. Passaram-se alguns meses e tornámo-nos inseparáveis.

Aprendi muito sobre ele e sobre o tipo de pessoa que era.

Ou que eu pensava que ele era.

Soube que vinha de uma família com um historial de violência e maus tratos. O pai era alcoólico e batia na mãe, e, desde criança, o filho assistia às cenas de violência. Inevitavelmente o divórcio ocorreu. O pai foi-se embora, mas os familiares começaram a maltratá-lo, e, frequentemente, foi obrigado a defender-se. E eu sentia pena dele…

Cerca de seis meses após o início do nosso namoro, a relação entre mim e o Kyle começou a mudar: discutíamos muito sobre coisas sem importância e ele tornou-se muito ciumento.

Na faculdade, tentava controlar-me: saber com quem falava, quem me acompanhava. E insistia em levar-me às salas todos os dias para ter a certeza de que eu não falava com ninguém de quem ele não gostava. Durante o almoço observava-me como um falcão, exatamente para ver os rapazes com quem eu falava. E se eu falasse, gritava comigo e obrigava-me a prometer que não voltaria a fazê-lo.

Algumas vezes, passávamos a hora do almoço sozinhos, ríamos e brincávamos juntos. Outras vezes, ele revelava-se ciumento e controlador. Tirava-me o telemóvel e revistava as minhas mensagens e chamadas. Uma vez ficou tão furioso que desferiu um murro na parede e partiu as falanges dos dedos da mão. Depois, culpou-me: se eu não tivesse feito “aquilo”, ele não se teria magoado.

Certo dia, fora da sala de aula, um professor ouviu o Kyle levantar-me a voz e viu-o agarrar-me. Apercebeu-se que eu me debatia para me libertar. Então chamou-o e eu corri para a sala de aula. Mais tarde descobri que o professor falou com ele sobre o seu comportamento violento…e o Kyle acusou-me, uma vez mais, de o meter em apuros!

E foi assim durante meses… Os confrontos tornaram-se mais violentos e físicos. Agarrava-me o braço e levantava a voz, mas não muito alto para não fazer cenas. Quanto eu mais tentava resistir, mais ele me pressionava. Magoava-me e deixava-me com hematomas, que eu tentava encobrir e justificar.

Foi no segundo ano da faculdade que as coisas realmente começaram a piorar e que ele começou a agredir-me constantemente. Um dia, fiquei até tarde na faculdade para terminar um projeto. Quando os meus pais me foram buscar já era escuro. Íamos jantar fora e soube imediatamente que, logo que vissem o hematoma na minha cara, não deixariam de me questionar. Assim, antes que reparassem, inventei uma desculpa: disse que tinha sido um acidente. Eu queria proteger o Kyle…

Mas os meus pais não acreditaram. Confessei-lhes então a discussão e a agressão. Chamaram logo a polícia. Os agentes tiraram fotografias da mancha escura e roxa e disseram-nos que iam passar na casa do Kyle para o interrogar.

Três meses após o incidente, eu e o Kyle fomos a tribunal.

O juiz repreendeu-o severamente e castigou-o, obrigando-o a horas e horas de serviço comunitário. E a sessões de terapia.

Ficou proibido de se aproximar de mim.

Até então, eu nunca me tinha dado conta que era vítima de violência no namoro! E foi preciso chegar a este ponto para descobrir a sórdida realidade.

Como podemos ser cegos! Mas, apesar de tardiamente, acabei por acordar.

E nunca mais permiti que ninguém me magoasse!

Fui-me tornando uma pessoa mais forte e lúcida, e hoje tudo faço para ajudar outras jovens que passam por situações semelhantes.

Autor: Kristen Elias

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Os comentários estão fechados para esta entrada de blog

Comentário de Vanessa Elen de Paiva Magalhães em 22 dezembro 2017 às 22:51

Verdade Adul o mundo precisa de mais AMOR para sobreviver.

Comentário de Marta Maria (adm) em 22 dezembro 2017 às 19:57

Infelizmente, apesar de tantos programas informativos e leis que amparam essas atitudes, os jovens em nome do amor ou mesmo por medo se deixam violentar, física e psicologicamente.
Um belo texto Adul, e com certeza deve ser compartilhado.

Comentário de Ana Cruz Nobre em 22 dezembro 2017 às 19:35

Tudo isto deve ser partilhado! Só assim poderemos Ajudar !
Obrigada Adul!

Comentário de Margarida Maria Madruga em 22 dezembro 2017 às 17:59

Não visualizo a imagem, mas não vou trocar o navegador. Essa narrativa é alarmante e super comum. Que horror!

Comentário de Conceição Valadares em 22 dezembro 2017 às 17:28

Muito bom o seu texto Adul, infelizmente tudo isto acontece.

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