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Nos primórdios da física clássica, eram quatro os conceitos fundamentais: "espaço", "tempo", "matéria" e "movimento da matéria". Esta física, genuinamente newtoniana, ao contrário de suas sucedâneas clássicas, era uma disciplina reconhecidamente incompleta por seu autor. Por inúmeras vezes Newton deixou clara sua intuição a apoiar-se na fé em novas descobertas a completarem seus estudos. Digno de nota são seus comentários sobre a força, um construto de alto nível, artifício prático e importante, posto que funciona, jamais um conceito fundamental. Digna de nota foi sua modéstia, misto de sabedoria e incompreensão, ao afirmar: "...não tenho escrúpulos em propor os princípios de movimento acima mencionados, sendo eles de uma extensão muito geral, e deixar suas causas serem descobertas."
Percebe-se, na física genuinamente newtoniana, a existência de "variáveis ocultas" que, ao serem descobertas, transformariam seus construtos de alto nível, tais como força e outros que surgiram nos séculos seguintes (energia, entropia, etc.), em grandezas meramente úteis, tais como os algoritmos utilizados na resolução de problemas matemáticos. É de Newton, por exemplo, o seguinte questionamento (Questão 1 em Óptica III):
"Não agem os corpos sobre a luz a distância, e por sua ação não inclinam seus raios?
Ora, como se daria essa ação à distância, entre um objeto material e um raio de luz? Haveria alguma entidade (variável oculta) a se propagar entre o "corpo" e os "raios de luz"? Muitos hão de dizer que, com esta frase, Newton estava a se referir a uma "ação" mágica "à distância". Obviamente, são pessoas que não leram a Óptica III, mas simplesmente viram este questionamento citado por terceiros. Se você possui a "Óptica III" não deixe de ler as questões que se seguem à Questão 1 e, em especial, a Questão 17. Pois é exatamente aí onde Newton mostra admitir algo que os livros atuais não citam. Fala a respeito de algo que não é nem corpuscular, nem ondulatório, qual seja, "a propagação das vibrações dos corpos". Vale a pena relatar, aqui, o trecho final da Questão 17:
"... E não são essas vibrações propagadas a partir do ponto de incidência a grandes distâncias? E elas não alcançam os raios de luz e, alcançando-os, sucessivamente, não os tornam facilmente refletidos e facilmente transmitidos, como descrito acima? Pois se os raios se esforçam em retroceder da parte mais densa da vibração, eles podem ser alternadamente acelerados e retardados pelas vibrações que os alcançam."
O que seriam essas vibrações? O que é que está se propagando entre um corpo e um raio de luz? Seria matéria? Ou seria um novo conceito fundamental, não citado entre os quatro anteriores (espaço, tempo, matéria e movimento da matéria)? Seria o "éter" a vibrar? Seria o éter a "quintessência do universo"? Muitos dirão que Newton refutou o éter pois acreditava na teoria corpuscular da luz, sendo então o éter totalmente desnecessário. Nada mais falso pois Newton admitia que matéria e luz comunicavam-se por algo a que por vezes denominou propagação das "vibrações dos corpos" (e neste caso, necessitaria de um éter para justificá-las) e, por outras, chamou por "espírito da matéria". De qualquer forma, deixou claro a necessidade de uma quintessência do universo: ou seria o éter (provavelmente não material e a sediar as vibrações), ou seria uma entidade não material a se propagar como tal. Esclarecendo melhor: ou seria um meio imaterial a vibrar, ou seria algo imaterial a viajar, tal e qual um corpúsculo, ainda que não material. Na "Óptica III", as considerações newtonianas sobre o éter podem ser encontradas nas Questões 18 a 24. Após algumas considerações sobre raios de luz, retorna ao éter na Questão 28, rejeitando-o:
"...E como ele não tem utilidade e impede as operações da Natureza, e a faz se definhar, então não existe nenhuma evidência de sua existência; e portanto, deve ser rejeitado... E, para rejeitar tal meio, temos a autoridade daqueles mais antigos e mais celebrados filósofos da Grécia e da Fenícia, que fizeram do vácuo, dos átomos e da gravidade dos átomos os primeiros princípios de sua filosofia; simplesmente atribuindo a gravidade a alguma outra causa que à matéria densa."
A este ponto Newton, muito sutilmente, faz uma analogia entre as "vibrações" acima referidas e a gênese do campo gravitacional. Aliás, este aspecto já havia sido apontado no prefácio da edição de 1717 de "Óptica" da seguinte forma:
"É inconcebível que a matéria bruta inanimada possa, sem a mediação de alguma coisa, que não é material, atuar sobre, e afetar outra matéria sem contato mútuo, como deve ser, se a gravitação no sentido de Epicuro for essencial e inerente a ela. E esta é uma razão pela qual desejo não me seja atribuída a gravidade inata."
Com efeito, a gravidade inata não faz parte da genuína física newtoniana mas, sim, da física clássica pós-newtoniana, proposta por falsos seguidores de Newton, pois não observaram uma de suas mais frenéticas observações:
"Que a gravidade seja inata, inerente e essencial à matéria, de modo que um corpo possa atuar sobre outro a distância, através do vácuo, sem a mediação de mais nenhuma coisa, pela qual e através da qual sua ação e sua força fosse transportada de um até outro, é para mim absurdo tão grande que acredito que homem algum que tenha em questões filosóficas competente faculdade de pensar, possa cair nele."
Sem dúvida, a física "que não deu certo" e que acabou sendo "remendada" pela física moderna, originou-se deste absurdo. E a física moderna, mesmo quando contesta a "ação à distância", conserva todas as consequências deste absurdo.
Newton conclui sua observação com as seguintes palavras:
"A gravidade deve ser causada por um agente que atua constantemente, de acordo com certas leis; mas deixo à consideração de meus leitores se este agente é material ou imaterial."
Percebam o rigorismo científico de Newton. Após afirmar que "esta alguma coisa não é material", deixando claras, ao leitor, suas convicções, retorna ao tema para mostrar que sua opinião não deve ser dogmatizada. Um cuidado, via de regra, não seguido pela maioria dos cientistas da atualidade. De qualquer forma, Newton deixou claro acreditar na existência de uma "quintessência do Universo"; e esta nada mais é que a "variável oculta" que, cedo ou tarde, virá afim de eliminar de uma vez por todas com os dogmas impostos pela física moderna.
Alberto Mesquita Filho & Daniel F. Fraga
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