Para quem gosta realmente de amizade, de aprender e adquirir conhecimentos
Global Social
Podes vender-me o ar que passa entre os teus dedos
E golpeia o teu rosto e desalinha os teus cabelos?
Talvez possas vender-me cinco moedas de vento?
Ou mais, talvez uma tormenta?
Acaso me venderias ar fino - não todo -
O ar que percorre o teu jardim de flor em flor
E sustenta o voo dos pássaros?
Dez moedas de ar fino, vender-me-ias?
O ar gira e passa na asa da mariposa.
Ninguém o possui.
Ninguém!
Podes vender-me céu?
Céu azul por vezes, ou cinza, também às vezes,
Uma parte do teu céu, o que compraste, pensas tu,
Com as árvores do teu sítio, como quem compra o teto com a casa?
Podes vender-me um dólar de céu?
Dois quilómetros de céu, um pedaço,
O que puderes, do "teu" céu?
O céu está nas nuvens.
Altas passam as nuvens.
Ninguém o possui.
Ninguém!
Podes vender-me chuva?
A água que forma as tuas lágrimas, molha a tua língua?
Podes vender-me um dólar de água da fonte?
Uma nuvem crespa, vender-me-ias?
Ou, quem sabe, água chovida das montanhas?
Ou água dos charcos, abandonada aos cães?
Ou uma légua de mar, talvez um lago?
A água cai e corre. A água corre. Passa.
Ninguém a possui.
Ninguém!
Podes vender-me terra?
A profunda noite das raízes, dentes de dinossauros,
A cauda esparsa de longínquos esqueletos?
Podes vender-me selvas já sepultadas, aves mortas,
Peixes de pedra, enxofre dos vulcões?
Milhões e milhões de anos em espiral crescendo?
Podes vender-me terra?
Podes vender-me?
Podes?
A tua terra é terra minha, todos os pés se apoiam nela.
Ninguém a possui.
NINGUÉM!
Nicolás Guillén
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Nada é de ninguém, e tudo é de todos. Só precisamos saber viver e compreender esta grande verdade. Adorei o texto... beijinhos
LINDO !!!
OBRIGADA AMIGO ADUL
Gostei muito Adul. Obrigada pela partilha
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