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Às vezes, me pego a pensar na realidade da vida.
Lembro-me de, pequenino, erguendo os braços para que papai ou mamãe me pegassem no colo.
Papai tinha um bigodinho preto, que roçava meu rosto, fazendo cócegas, quando me beijava.
Mamãe, muito linda, com seu sorriso encantador, sempre buscava me alegrar.
No meu primeiro dia de aula, os dois fizeram questão de me levar à escola, sorrindo e me estimulando à novidade, que me assustou, um pouco.
Meus irmãos e eu crescemos e foi chegando o dia de mudar de cidade, em função dos estudos.
Hora de encararmos a Universidade, no curso que escolhemos.
Voltamos formados, nos estabelecendo na cidade natal.
Percebemos que muitas coisas haviam mudado.
O sorriso de mamãe, quando se mostrava feliz, por nos ter de volta, não era mais tão brilhante.
Papai abandonara o bigode e estava com o rosto mais sério, embora ainda fizesse alguma piada e procurasse rir de pequenas tolices.
Em poucos anos, meus irmãos e eu nos casamos, iniciando nossas famílias.
No início, íamos passar dois domingos por mês junto dos velhos, acompanhando de perto o declinar daquelas criaturas queridas.
Os netos diziam que vovô só ficava sentado em sua cadeira preferida, resmungando coisas repetidas.
Vovó começara a se esquecer das palavras, buscando, de forma insistente, acessar a memória, sem grandes resultados.
Papai e mamãe haviam envelhecido precoce e rapidamente.
Estavam vulneráveis, cansados, não tinham mais disposição para brincar ou conversar com os filhos ou com os netos.
Em alguns momentos, pareciam voltar a atitudes infantis, ocultando alimentos que lhes faziam mal à saúde, para os degustar a sós.
Agora, por mais que os estimule a falar, não têm assuntos como antes, quando costumavam perguntar tudo de todos.
Repetem narrativas de fatos antigos, como se tivessem acabado de ocorrer.
Sinto, fortemente, como é complicado aceitar que nossos amores não detenham mais o controle de sua memória, de sua vida plena.
E descubro que a situação se inverteu.
Chegou o momento de sermos, meus irmãos e eu, o que eles foram para nós, no passado recente.
Eles precisam de nós. Tomei a decisão de vê-los diariamente, ficar com eles algum tempo, ouvi-los com paciência, como eles o fizeram, nos verdes anos da minha infância.
E, mesmo que não entendam tudo, lhes falo dos sucessos dos netos, de cada conquista que fazem. Também do meu dia, das questões que me envolvem na profissão.
Até deixei meu bigode crescer para fazer cócegas no rosto de papai quando o beijo, o que o faz rir.
Levo uma flor, em alguns dias, para dar à minha mãe, para incentivá-la a procurar um vaso, colocar água e a deixar na mesa da sala.
Sinto que a vida, a pouco e pouco, vai fechando mais um ciclo na vivência de meus pais.
Dou-me conta de que, logo, mais cedo do que imaginava, caminho, igualmente, para esses anos mais maduros, cheios de experiência.
Rogo e espero em Deus ter suficiente paciência para aceitar o que me toque, como experiência de vida, enquanto aguardo o desdobrar das vivências dos amores paterno e materno, que ainda estão nesta vida.
Ciclos da vida se sucedem.

Redação do Momento Espírita.
Em 30.10.2021

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