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Por vezes, quando temos pequenos e discretos gestos de generosidade, podemos estar a mudar a vida de alguém para sempre.


Margaret Cho

Foi quase logo de imediato: quando entrei na sala de aula do meu terceiro ano, reparei no saco ao canto junto da minha secretária. Era de cor creme, de plástico grosso, que não deixava adivinhar o que lá estava dentro. Peguei nele e perguntei:
— A quem pertence isto?
Não obtive resposta. Então abri-o, remexi o seu interior e vi uma camisa azul e vermelha, alguns pares de calções e o que me pareceu serem umas sapatilhas. Sem saber de quem era o saco, voltei a perguntar, mas ninguém respondeu. Olhei atentamente os rostos dos meus alunos. Nenhum fazia ideia de quem poderia ser o dono do saco, até que reparei que o Timothy, olhando-me nos olhos, fazia ligeiramente que não com a cabeça e eu parei logo de remexer. Intuí que era ele o responsável por aquele saco cheio de coisas. Também intuí que, se o chamasse ou se expusesse o conteúdo do saco, iria deixá-lo embaraçado.
Mais tarde, chamei-o à parte.
— Timothy, aquelas roupas são tuas? Vais dormir a casa de algum amigo depois das aulas? O que é que se passa?
O Timothy arrastou os pés e respondeu-me que as roupas eram para um amigo — um rapaz da turma —, um miúdo que ele via todos os dias. Incomodava-o que o colega usasse sempre as mesmas roupas e os mesmo sapatos, semana após semana. Disse-me que tinha reparado que nem sempre as roupas lhe serviam e que estavam em muito mau estado, uma vez que já tinham sido anteriormente usadas por dois irmãos mais velhos. Às vezes, os sapatos cheiravam mal.

Fiquei curiosa, porque a maior parte dos miúdos do terceiro ano só se preocupam com eles próprios. Não é costume serem assim atentos aos outros. Mais tarde, quando perguntei ao Timothy porque é que ele tinha feito aquilo, respondeu-me, olhando-me nos olhos:
— Ele é meu amigo. Só queria ser simpático.
Perguntei-lhe se a mãe sabia o que ele tinha feito. De modo algum podia permitir que os meus alunos dessem as suas roupas sem a autorização dos pais, mas o Timothy tranquilizou-me.
— Primeiro — disse — perguntei à minha mãe se podia e ela respondeu: ‘Se alguém precisar de alguma coisa que tu tenhas, podes dar-lho.’ Então, fui ao meu armário e às minhas gavetas. Peguei em coisas que estavam já a ficar-me pequenas, coisas que imaginei que lhe iriam agradar. Escolhi aquela camisa azul e vermelha com o homem a jogar polo na frente especialmente para ele.
Tirei-a do saco e examinei-a. Disse:
— É uma camisa colorida e com muito bom aspeto, Timothy. Tenho a certeza de que ele vai adorar.
— Ainda a usava, mas estou a crescer e vai deixar de me servir, por isso, vai ficar bem ao meu amigo, que é mais baixo do que eu.
Reparei na expressão de alegria no rosto do Timothy, pus-lhe a mão no ombro e disse-lhe:
— Em vez de enfiares as camisas e as calças para o fundo do teu armário, decidiste dá-las a alguém que pode aproveitá-las, não?
— Exatamente. E a minha mãe ensinou-me a lavar roupa no ano passado, por isso lavei tudo antes de fazer o saco.

Perguntei ao Timothy quando é que ele tencionava oferecer as roupas ao colega. Respondeu:
— Já ofereci. Hoje de manhã, entreguei-lhe o saco de plástico.
O Timothy olhou em volta para confirmar que ninguém estava a ouvir.
— Ele disse que as ia levar. Por isso, em conjunto, decidimos que o sítio mais seguro para as deixar até ao final do dia era no canto da sala, junto à sua secretária.

Naquela tarde, quando a mãe do Timothy o foi buscar à escola, fui ter com ela e disse-lhe:
— Tem um filho bondoso. Deve estar muito orgulhosa do que ele fez.
O Timothy abanou a cabeça e sorriu. Pela expressão no seu rosto, dava a impressão de que não achava que tivesse feito nada de especial. Limitara-se a ajudar um amigo.
Mas quando vi o amigo vestido com as roupas “novas” nas semanas seguintes, tive a certeza de que os dois rapazes tinham aprendido uma lição de vida: os pequenos gestos feitos com o coração podem mudar tanto a vida das pessoas!

Autor: Sioux Roslawski

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Os comentários estão fechados para esta entrada de blog

Comentário de Ana Cruz Nobre em 15 novembro 2018 às 18:54

Historiazinha bonita Adul!!!

Comentário de Marta Maria (adm) em 12 novembro 2018 às 13:38

É tão gostoso observarmos nos rostos das pessoas que ajudamos o semblante estampado da gratidão! Se todos fossem solidários uns com os outros, o mundo seria bem melhor.
Belo texto! Beijinhos

Comentário de Conceição Valadares em 12 novembro 2018 às 12:34

Lindo Adul!!!!!!!!!!!!!! Muito obrigada pela sua partilha. Beijinhos

Comentário de Patrizia Gardona em 12 novembro 2018 às 12:04

Muito lindo, obrigada por compartilhar, amigo, beijinho.

Comentário de Lia Menezes em 12 novembro 2018 às 11:29

Bom dia
Boa semana
Bjos

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