Global Social

Em 1992, o meu marido e eu participámos num intercâmbio cultural que nos deu a possibilidade de visitar a Alemanha e ficarmos alojados em três famílias maravilhosas. Alguns anos mais tarde, ficámos radiantes ao saber que um dos casais que tinha sido nosso anfitrião vinha visitar-nos no Iowa.
Esses nossos amigos alemães, Reimund e Toni, viviam em Ruhr, numa região industrial, alvo de violentos bombardeamentos durante a Segunda Guerra mundial.
Uma noite, durante a sua estadia de uma semana em nossa casa, o meu marido, que é professor de História, pediu-lhes que nos contassem o que recordavam da infância na Alemanha durante a guerra. Reimund fez-nos então um relato que nos emocionou até às lágrimas.
Um dia, pouco antes do fim da guerra, Reimund viu dois aviadores saltar de um avião inimigo que acabava de ser abatido. Como muitos outros curiosos que tinham visto os paraquedistas cair do céu naquela tarde, o nosso amigo, então com 11 anos, correu até à praça principal para onde eram levados os prisioneiros de guerra. Pouco tempo depois, dois polícias chegaram com os ingleses e ficaram à espera que uma viatura militar os viesse recolher e levar para a prisão de uma cidade vizinha.
Quando a multidão viu os paraquedistas, começou a gritar de raiva:
— Matem-nos! Matem-nos já!
A população não esquecia os terríveis bombardeamentos que os Ingleses e os seus Aliados tinham lançado sobre a cidade e, nesse momento, pouco faltava para passarem aos atos. Muitos estavam a trabalhar nos seus quintais quando viram os dois cair de paraquedas e logo tinham pegado em forquilhas, pás e outras alfaias de jardinagem.
Reimund olhou para a cara dos prisioneiros ingleses.
Eram muito jovens, não tinham mais de 19, 20 anos. E via como estavam aterrorizados. Também sentia que os dois polícias, cujo dever era proteger os prisioneiros, não tinham grande hipótese ante aquela multidão enfurecida, armada de forquilhas e de pás.
Sentiu que devia fazer qualquer coisa, rapidamente. Correu então pela praça e colocou-se entre os prisioneiros e a multidão. Depois, gritou às pessoas para pararem. Com medo de ferir Reimund, a multidão deteve-se um momento, o bastante para que este lhes tivesse dito apenas isto:
— Olhem para os prisioneiros. Não passam de uns rapazes! Em tudo iguais aos vossos próprios filhos. Fazem exatamente o mesmo que eles: bater-se pelo seu país. Se os vossos filhos fossem apanhados no estrangeiro e feitos prisioneiros de guerra, certamente que não gostariam que a população os linchasse. Por favor, não lhes façam mal!
Os concidadãos de Reimund ouviram, primeiro com espanto, depois com vergonha. Por fim, uma mulher disse:
— Foi preciso vir um rapaz apontar-nos o que está bem e o que está mal.
E a multidão dispersou.
Reimund nunca mais esqueceu o intenso olhar de alívio e de gratidão que os dois jovens aviadores lhe dirigiram. E ainda hoje deseja que tenham tido uma vida longa e feliz, e que não tenham esquecido o miúdo que lhes salvou a vida.

Elaine McDonald
Jack Canfield et Mark Victor Hansen

Un 3e Bol de Bouillon de Poulet pour l´Âme
Montréal, Éditions Sciences et Culture, 1997
Montréal, Éditions Sciences et Culture, 1997

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Comentário de Ana Cruz Nobre em 24 novembro 2019 às 20:10

ATITUDE MUITO BONITA A DO RAPAZINHO!
REVELA O AMOR K ELE TINHA NO SEU GRANDE CORAÇÃO !
OBRIGADA ADUL POR PARTILHAR !

Comentário de Marta Maria (adm) em 5 janeiro 2019 às 2:02

Muito bom esse texto. É preciso coragem para enfrentar e sabedoria para saber apaziguar uma multidão enfurecida. Parabéns pelo blog, gostei imenso... beijinhos

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