Saber envelhecer é uma arte

[Elieth Tavares Castro]

Em Dezembro de 2017, visitando um amigo, tive a oportunidade de conversar com seu avô de 83 anos. Deparei-me nessa oportunidade a dialogar com um senhor lúcido, simpático e bem viajado. Entusiasmado como uma criança que está prestes a entrar em um parque de diversão, me contou maravilhado que havia acabado de retornar da Grécia juntamente com sua esposa de 79 anos.

O casal idoso finalmente havia realizado um de seus sonhos e surpreendentemente estavam planejando ir ao Cairo em 2018, porquanto, segundo o simpático avô, as pirâmides lhes provocam uma sensação de nostalgia de algo que ele não consegue definir, mas que precisa estar lá para se sentir ainda mais vivo e talvez entender um pouco mais dos mistérios da vida.

Observando, ouvindo e sentindo o entusiasmo pela vida daquele idoso me dei conta em um lapso, que uma pessoa jamais deve confundir aposentadoria laboral com o fim da vida, mas como uma oportunidade de realmente começar a viver explorando o mundo, as sensações, os gostos e os sabores.

Nessa oportunidade aprendi que devemos nos preparar para uma velhice feliz de forma a não perder o encanto pelas coisas e pela vida, visto que o mundo se torna maravilhoso, quando somos gratos a tudo que recebemos, conquistamos e construímos.

Tenho observado entre as pessoas idosas muito ativas, que envelhecer com sabedoria é não deixar de movimentar-se, porquanto tudo a nossa volta é movimento, além do mais, estacionar é estagnar, é transformar-se em água parada, e água parada apodrece não permitindo vida em seu ambiente.

Estou aprendendo com essas pessoas que possuem uma grande bagagem de experiências, que devemos olhar a vida com mais entusiasmo, mesmo com a consciência de que ela caminha para sua finalização.

Quanto à velhice, o poeta T.S Eliot diz o seguinte: "Homens velhos devem ser exploradores, não importa onde… Temos de estar sempre nos movendo na direção de uma nova intensidade, de uma união mais alta, de uma comunhão mais profunda… Movendo-nos através de uma desolação escura, fria e vazia: o grito das ondas, o grito do vento, as águas imensas das gaivotas e dos golfinhos: no meu fim está o início".

A velhice jamais deve ser encarada como o fim, visto que, é apenas uma etapa da vida, assim como a infância, a adolescência e a vida adulta. É na verdade um começo, no qual se pode vislumbrar e viver a verdadeira liberdade de ser o que realmente é, visto que, quem viveu uma vida devotada ao trabalho e à família, não deve temer a opinião do outro, muito menos deve explicações a quem quer que seja.
Há tantas formas de sonhar, de movimentar-se e principalmente ser útil a si mesmo.

A literatura, a dança, a arte em si, as pequenas caminhadas pelas ruas da cidade e um simples andar até a padaria para comprar pão, são prazeres que não podem ficar sem serem praticados, enferrujados por nosso medo de arriscar coisas novas. Movimento é o segredo do bem viver, movimento da mente, do corpo, da alma.

A modernidade e seu aspecto utilitarista incutiu em nossa mente que o envelhecer é tornar-se inservível, como se envelhecer fosse adoecer. Sendo assim, poucas pessoas prepararam-se para envelhecer temendo o próprio fim, desconhecendo que na verdade, a velhice é um novo começo. A ideia de ser alguém inservível faz com que o idoso deixe de caminhar, de se movimentar e encontrando-se estagnado as doenças decorrentes do sedentarismo começam a aparecer de forma exponencial.

Talvez o segredo da longevidade com lucidez e saúde esteja no amor pela vida e por nós mesmos. É certo, que viver bem é decorrência do amar em vez do odiar, do ouvir mais e falar menos.

Se formos observar as pessoas de bem com a vida e entusiasmadas como o casal de idosos citado, perceberemos de forma mais clara, o exercício da gratidão pela vida e os dons decorrentes dela que carregamos na alma, visto que, ser grato é uma chave mestra que abre as portas que levam aos caminhos da felicidade.

Davi Roballo
Fonte: Davi Roballo - Saber envelhecer é uma arte