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Acredito que dos maiores equívocos da sociedade ocidental – e que acabou contaminando a quase totalidade do pensamento religioso – é a ideia da imagem de Deus à nossa semelhança.
Sim, porque muito do pensamento humano é imaginar um Deus antropomórfico, ou seja, Deus criado à semelhança humana, cujos atributos e forma aparente lembram as características e valores humanos.
A criação de Adão, afresco pintado por Michelangelo no teto da Capela Cistina.
A arte de Michelangelo em “A criação de Adão” reflete este pensamento, pois retrata a imagem de Deus-humano criando o homem à sua suposta imagem e semelhança.
Penso que a confusão surge de uma interpretação literal da informação contida na tradição judaico-cristão escrita da Bíblia Sagrada, mais precisamente em Gênesis 1:26 na qual Deus teria criado o homem à sua imagem e semelhança (“Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”[1]).
Esta tese deu ensejo à “criação” de um absurdo deus-humano, com todas as idiossincrasias que nos caracterizam: ciúmes, arrependimento, julgamento, ira e outros comportamentos puramente humanos que supostamente seriam de Deus.
Este pensamento absurdo evidentemente enfrenta forte crítica e não resiste à lógica e ao bom senso, pois como poderia Deus ter sentimentos humanos, ao passo que encontramos humanos com sentimentos superiores a este Deus ciumento?
Aí vem Alguém que sabe das coisas e nos apresenta Deus como Pai amoroso, bom e justo.
Pois é. Acredito que o equívoco se deve à desconsideração de que se trata de óbvia linguagem simbólica no Gênesis, além do que pode ser feito com uma interpretação sistemática e em conjunto com outras informações de que já dispomos.
De fato, somos sim criados à imagem e semelhança de Deus.
Allan Kardec inaugura O Livro dos Espíritos com uma pergunta intrigante: “Que é Deus?[2]” e a resposta dos espíritos a esta primeira pergunta é reveladora: “Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas” (lei mais aqui).
Outras chaves integram a busca que fazemos: Jesus no célebre diálogo com a samaritana revela que Deus é Espírito (João 4:24), ao passo que João, o evangelista, também dá conta que Deus é amor (1 João 4:8).
Com estas informações podemos entender um pouco esta “natureza” de Deus: inteligência suprema + criador primeiro + espírito + amor.
Através destas características (se podemos chamar assim) podemos entender a nossa semelhança com este Criador, pois somos também espíritos (embora temporariamente revistamos uma forma física), inteligentes (não supremos, mas limitados), também somos criadores (da nossa própria realidade) e tendemos ao amor e a amar.
O aprofundamento desta busca e destes conceitos ficará por conta do leitor destas singelas linhas, pois de fato somos criados à imagem e semelhança de Deus, não porém o deus-humano que singelamente interpretamos outrora.
[1] O plural utilizado no texto será objeto de uma análise específica em outro texto.
[2] A própria pergunta já demonstra que não se trata de “quem” – pessoa, mas “o que”, retirando o caráter humano da divindade.
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