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Pelo segundo ano consecutivo, a data é celebrada em cenário de pandemia.
Mas há inúmeras formas de demonstrar afeto sem colocar em risco a vida dos outros
Por Marilia Serpa, Gabriela Almeida
07:00 | 22/05/2021
O Povo online
Envolver alguém com os braços, de forma rápida ou prolongada, forte ou discreta. Talvez essa seja a descrição mais simples do que é o abraço, mas a descrição superficial não condiz com os significados e efeitos profundos que o gesto pode ter sobre as relações humanas. Neste sábado, 22, Dia Internacional do Abraço, pelo segundo ano consecutivo a data é celebrada em cenário de pandemia. Em uma inversão de sentido para algumas culturas, não abraçar é que virou demonstração de proteção e cuidado.
O dia comemorativo foi pensado pelo australiano Juan Mann, em 2004, logo após o homem ter se sentido solitário ao chegar em um aeroporto e não contar com amigos ou parentes para recebê-lo. Foi esse sentimento de solidão que fez Mann iniciar, há exatos 14 anos, o movimento "free hugs" (abraços grátis em inglês). Com a frase estampada em um papelão, ele foi até um ponto movimentado da cidade de Sidney.
Inicialmente, a "oferta de abraço" causou estranheza e chegou a ser paralisada pelos guardas da região, sob alegação de que o homem poderia se ferir durante o gesto. No entanto, Mann se uniu com algumas pessoas próximas e realizou uma petição para retomar a ação.
Não demorou muito, e o movimento se popularizou. Principalmente quando Juan ofereceu um abraço para Shimon Moore, vocalista da banda "Sick Puppies", que usou de sua influência para divulgar o movimento e o tornou famoso não apenas na Austrália, mas em diversos países do mundo. Desde então, a data marca um momento para provar a importância do gesto de afeto.
A importância do abraço
Seja para matar a saudade, demonstrar gratidão, cumprimentar, despedir-se de alguém, fazer as pazes etc. O abraço sempre foi um gesto naturalmente praticado pelas pessoas. É fato que ele faz parte de forma mais intensa de algumas culturas, como a do Brasil. Em outras, no entanto, o abraço não é algo tão comum de ser praticado.
"O abraço afetuoso é uma demonstração clara de afinidade, é a forma de dois corações se encontrarem. É também uma maneira de se demonstrar amor", explica a doutora em Sociologia, Camila Holanda, especialista em afetos.
A doutora explica que os brasileiros praticam o gesto tanto como uma forma de "cortesia" como de carinho. "O brasileiro abraça até mesmo um desconhecido como forma de abrir um canal de proximidade. Essa construção no imaginário social de que o brasileiro é um povo afetuoso e carinhoso se dá muito pela forma como ele reage quando encontra outra pessoa", destaca.
Ainda, é possível falar do abraço sob uma perspectiva de saúde. "Quando abraçamos alguém, nosso corpo reage e produz o hormônio do amor e da felicidade, mais comumente chamado de ocitocina. A produção desse hormônio gera uma sensação de cuidado, confiança e acolhimento, interferindo em diferentes aspectos, como a autoestima, minimização da sensação de solidão, na ideia de quem não estamos sozinhos", diz Rebeca Rangel, psicóloga especialista em Psicoterapia Psicanalítica.
A psicóloga finaliza: "A liberação da ocitocina interfere de uma maneira geral na responsividade do sujeito, em como o sujeito se sente com ele e em como o sujeito vai estar aberto para o mundo ao redor".
Segundo ano consecutivo "sem abraços"
Há pouco mais de um ano, o contato físico humano precisou ser interrompido. Isso porque o mundo precisou lidar, de forma brusca, com um vírus altamente transmissível e, à época, ainda desconhecido pela ciência. A única saída, enquanto a vacinação em massa está longe, é evitar todo e qualquer tipo de aproximação física, e isso incluiu o abraço.
Com o isolamento e a falta de contato físico, a saudade foi se tornando um sentimento cada vez mais constante para pessoas como Pedro Henrique Tessarolo, 26, que não reside com os familiares e precisou ficar por muito tempo sem os abraços da mãe, dos irmãos e avós. O analista de mídias sociais nasceu e cresceu em Maringá (PR), mas se mudou para São Paulo (SP) quando adulto.
Antes da pandemia, a última vez que o analista esteve em sua cidade natal foi em novembro de 2019. Ele tinha planos de voltar na páscoa do ano seguinte. O que ele não contava é que o mundo todo entraria em um cenário de crise sanitária, e ele precisaria ficar em isolamento na capital paulista, longe da mãe e da avó. Foram, ao todo, um ano e cinco meses de videochamadas para tentar matar, em vão, a saudade que sentiam.
O sentimento só foi aliviado mesmo na última quinta-feira, 20, quando o paranaense embarcou em um avião e chegou de surpresa na casa da família, depois que a mãe e avó foram vacinadas. "Eu fiquei com medo de colocar elas em risco, ficava com o coração apertado, morrendo de medo de que algo acontecesse", relembra.
Pedro chegou em sua cidade natal cheio de nostalgia e, quando se aproximou do portão da casa onde a família vive, a voz já estava querendo embargar. "Ô de casa!", foi o que conseguiu dizer, misturando as palavras com uma risada de nervosismo e de alegria. Quando a vó dele saiu pela porta e o reencontrou, o analista não conseguiu mais evitar o choro e, instintivamente, a envolveu nos braços. Nas redes sociais, o momento comoveu os seguidores de Pedro.
"Por mais que a gente conversasse, matasse a saudade por FaceTime, não era a mesma coisa de poder estar aqui, comendo a comida da minha vó e rindo com minha mãe. Só o abraço mesmo pra gente conseguir sentir o que o outro está querendo dizer. Às vezes, a gente não consegue falar com palavras. Só no abraço é que temos certeza de tudo", descreve.
Embora a vacina atenue as formas mais graves da Covid-19, ela não impede a infecção pelo vírus. O alerta é da Organização Mundial da Saúde (OMS). Os vacinados precisam continuar usando máscara e manter o distanciamento social, porque também podem transmitir o vírus e adoecer.
Como substituir o abraço em tempos de pandemia
"Agora, na pandemia, a gente aprendeu a tocar as pessoas de uma forma diferente, com o olhar, com as palavras. O efeito nem sempre é o mesmo, mas conseguimos pelo menos acolher e oferecer amor às pessoas mesmo sem usar o corpo para abraçar", explica a psicóloga Rebeca Rangel.
Henrique Souza, cofundador da clínica de psicologia Eurekka, ressalta que o abraço pode ser trocado por outras mostras de afeto. "Você pode começar se envolvendo na causa (da pessoa), perguntando se ela está bem, se precisa de algo para aquela semana, se os familiares dela estão bem. Pode fazer uma chamada de vídeo para estabelecer mais contato ou até mesmo dar suporte para algo que aquela pessoa precisa naquela semana, como ir à farmácia, ao mercado, à padaria, e poupar o outro da exposição", destaca.
A doutora em Sociologia Camila Holanda complementa a sugestão do psicólogo: "É importante que neste dia 22 de abril possamos enviar abraços virtuais. Devemos continuar com a esperança de que muito em breve estaremos todos dando os nossos abraços pessoais."
No fim das contas, as sugestões dos profissionais destacam o mesmo conselho para o dia a ser celebrado: há formas criativas e amorosas de "abraçar" o outro. O importante é que a data não perca o sentido.
Em tempos difíceis, ter esperança de que dias melhores sempre chegam é um consolo. "Na pandemia, a gente vive sob essa limitação. Quando as pessoas falam que têm saudade de se aglomerar, elas também querem dizer que sentem saudade de estar perto das pessoas, de abraçar", salienta a socióloga.
No que depender dos que anseiam por contato físico de forma saudável, talvez o abraço seja a primeira coisa a ser praticada quando todos os brasileiros estiverem imunizados e livres para viver a vida cheia de afetos e demonstrações físicas de amor.
"Se algo de bom puder ser extraído deste longo tempo de pandemia, que seja o sentimento de solidariedade, de acolhimento e de afetividade pelo outro. Já que tantos abraços foram 'abafados' na pandemia. Que, ao fim dela, esse gesto possa ser praticado desmedidamente, que se possa fazer uma entrega super expansiva de abraços", finaliza Camila.
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Obrigada Adul, pelo pouco caso que fazes dos nossos blogs
Obrigada Margarida... beijinhos
Abraços para todos!
Filho é um caso diferente. Eu também nunca deixei de abraçá-los e aos meus netos.
Beijinhos...
Belíssimo texto Martinha, mas eu nunca deixei de dar abraços ao meu filho e não há virus ou politicos que me possam tirar de deixar de fazer isso. Beijinhos
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