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Sentada num banco de praça, estava vendo o povo passar, sem prestar atenção em nada, absorvida em meus pensamentos. De repente, uma garotinha se aproximou de mim e falou: -Tia, me dá um dinheiro para eu comprar um pão?
- Pão, a esta hora? retruquei... Está quase na hora do almoço, meu bem.
- É que eu ainda não comi hoje. Lá na minha casa não tem nada...
- E onde você mora?
-Eu não sei. Só sei que é longe. À tarde, minha mãe encontra comigo por aqui e vamos embora
- Mas como vão embora? Vocês moram longe, vão de ónibus?
- Não. Nós vamos andando, andando, até os pés ficarem doendo de tanto pisar no chão quente, nas pedras que encontro pelo caminho. Aí, quando estou quase morrendo de canseira chego em minha casa.
- E lá, o que você encontra? Tem mais gente na sua casa?
-Tem sim. Meu pai é doente, não pode sair. Fica só deitado, coitado. Nós levamos alguma coisa para ele e meu irmão, o Juquinha, que fica tomando conta dele.
- E todos os dias vocês conseguem levar algo para seu pai e Juquinha?
- Não senhora. Tem dia que nem nós ganhamos nada para comer. Mas a gente vem assim mesmo... Um dia é bom, outro ruim, mas vamos levando a vida. A nossa família já está acostumada com a pobreza. Só não entendo porque há uma diferença enorme entre as pessoas. Uns têm tudo para comer todos os dias e outros nada, todos os dias. Por que será que Deus faz isto com as pessoas?
-Não é Deus, minha querida, são os homens. Eles são os culpados por todos os acontecimentos negativos que você, na sua tenra idade, percebeu que existe neste mundo. Deus é amigo de toda humanidade. Ele jamais permitiria que uma criança como você ficasse sem comer dias e dias, andando tanto, até machucar os pés...
- Mas então, por que tem criança que come tudo, toda hora? Tem mãe que não precisa sair para pedir comida? Tem pai que não fica doente, ou se fica, chama o médico e logo fica curado?
- Difícil responder...
- A senhora também não sabe, tia?
- Eu sei sim... É porque... Como é o seu nome menina?
- Meu nome é Maria e o da senhora?
- Eu me chamo Beatriz. Gosta do meu nome Maria?
- Gosto sim tia. Gosto da sua cara também. Quando fui chegando perto do banco, sabia que seria bem recebida, sabia que a senhora era boa e ia dar atenção ao meu pedido.
- Por que, tem gente que não lhe dá atenção?
-Ihhhh!.Quando vou chegando perto já vão dizendo que não têm trocado,que não é hora de pedir esmolas, um monte de coisas..
- Pois é Maria, este é um dos pecados que os homens cometem, julgando as pessoas antes mesmo delas falarem. E se você não viesse pedir nada? Se viesse entregar alguma coisa que tivesse caído da bolsa daquela pessoa e quisesse devolver? Ficariam sem o objeto perdido e com o pecado de menosprezar um semelhante. É o que estava lhe dizendo quando perguntei o seu nome. As pessoas são diferentes porque são más. Deus deu a todas, em igualdade, o direito de serem boas ou más, de ser amiga ou orgulhosa, de amar ao próximo como a si mesma... Acontece que nem todos aprenderam a lição de Deus. Uns agem de uma maneira, acham-se muito importantes para perder tempo em dar atenção à uma pessoinha como você e acabam pecando cada vez mais contra a vontade Dele.
Sinto muito Maria. Desejo de coração que você tenha, um dia, tudo o que quiser e possa também ajudar seus pais. Quando crescer um pouco, poderá arrumar um emprego e ser alguém na vida. Vamos pedir a Deus para que isto aconteça. Você vai ser uma moça bonita e feliz.
- Mas eu não sei rezar, tia... Eu converso com Deus mas Ele não me responde...
- Responde sim. É que nós não temos como ouvir as palavras de Deus. Ele nos fala e, em nossa cabeça, nós que tentamos perceber o que Ele falou através de gestos de outras pessoas, através do dia que tivemos. Se você pensar só coisa boa, vai saber que Deus respondeu tudo que você perguntou e será feliz.
- Ah! Então vou conversar com Deus todos os dias, antes de sair de casa... Agora vou embora porque tenho que encontrar alguém que me dê alguma coisa para levar para casa. Gostei muito de conversar com a senhora tia. Quando eu conversar com Deus, vou pedir para que faça tudo que a senhora pedir pois é uma pessoa muito boa. Conversou comigo e me ensinou muita coisa. Foi o melhor presente que recebi até hoje, o seu carinho...
- Não tenha pressa Maria. Tome este dinheiro e, quando sua mãe chegar, vá com ela comprar alimentos para levar ao seu pai e irmão.
Vamos fazer um trato: toda semana, estarei esperando por você aqui, neste banco da praça. Eu lhe darei outra vez meu carinho, minha atenção e também algo suficiente para que não precise mais pedir às pessoas orgulhosas, aquelas que passam e ignoram sua presença... Vou ser sua madrinha e estarei sempre aqui, esperando por você, com muito amor no coração e muita saudade também. Serei seu Anjo da Guarda e não deixarei que se sinta diferente das outras meninas que encontrar na cidade. Deus deu a vida a todos nós e, perante Ele, somos todos iguais.
Maria afastou-se e vi em seus olhinhos, um quê de felicidade, uma luz parecida com as estrelas que brilham no céu...  De longe, acenou para mim e eu me senti tão feliz como se tivesse recebido de Deus, mais uma filha para cuidar e dar meu amor de mãe.
Desde então, todas as semanas, Maria e eu nos encontramos naquele banco da praça, naquele mesmo local onde nos conhecemos.
Conversamos, contamos nossos segredos, nossos desejos, enfim, falamos de tudo.
O que mais me agrada nisto tudo é ver que a cada dia que passa, Maria sente mais prazer pela vida, sinto-a feliz e igual a todas as meninas e, em seu semblante, noto a beleza da vida, num simples encontro que teve comigo e que mudou o seu viver.
E feliz também eu fico quando ela me beija para ir embora e diz:
- EU SOU FELIZ TIA... graças a Deus e a senhora que me fez ver que o mundo não é tão ruim como eu pensava. Basta que tenhamos fé e esperemos pelo dia certo em que Deus colocará à nossa frente, um anjo bom, aquele que mudará o rumo de nossas vidas, tornando o sofrimento mais leve e fazendo com que acreditemos na existência de Dele...
Toda semana eu fico mais jovem depois que converso com Maria. É como se eu a fizesse mais adulta e ela me tornasse uma criança... Trocamos nossas energias, nossos sentimentos de amor, amizade e conseguimos a felicidade.
A vida é muito engraçada. Uns minutos num banco de praça, uma troca de olhar com uma criança e duas vidas ficam diferentes do que eram até então.
Eu me sinto premiada pois consegui fazer de uma criança triste e pobre, uma quase adolescente mais feliz e confiante no futuro.
É preciso entender o olhar da alma, principalmente de uma criança carente e, fazer disto a união de duas pessoas que eram desconhecidas e hoje se amam pelo simples fato do amor ao próximo, do respeito ao ser humano, enfim, do amor a Deus que nos proporciona momentos como este.
Sou feliz... muito mais que a Maria...
Nota da autora: Quando nasci, minha mãe queria que eu me chamasse Beatriz.

Jandyra Adami, 14-julho-2001
Belo Horizonte - MG - Brasil
www.berju.uaivip.com.br
Jandyra Adami nasceu em Santa Rita do Sapucai-Minas Gerais-Brasil- Pertence à Academia de Letras,Ciências e Artes -ALCA- de lá- Auditora Fiscal da Receita Federal do Brasil- aposentada por doença grave- Mora em Belo Horizonte-Capital de Minas Gerais-Pertence a vários grupos de literatura no Brasil e Portugal (embora não se sinta escritora). Já publicou 6 livros, sendo os 2 últimos em benefício das casas carentes de sua cidade.

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