Há certos dias...

cinzentos de chuva intermitente

aguaceiro estendido em telhados

resvalam em longos fios

cintilando paredes esquecidas

um olhar se alonga em gotas

para além da vidraça talhada

de memórias...

*

breve o chuvaréu clareia em viço

o arboral em festa das folhas lavadas

cá dentro respinga lasso…

Indiferença - Texto de abertura da peça, declamado por Ester (Maria Lucia).

Roubo-te o aroma

absinto de teu dorso nu

embriagante (in) confidências

em rimas...…

Há, entre nós meu amor

silêncios e palavras que contém paixão enorme

esse mar a minha frente a me perceber o olhar

embarcação pequena para te navegar...



essência encantada soprando avenas em meu ser

para te sonhar além do oceano a outra margem 

terra multiforme...



mendicância é foice que fere e humilha

ante o gladio desse teu olhar que me lastimas…

...trago-te no pensamento em movimentos vivos daqueles dias transatos sob archote ardente

preservador



um baile de imagens desfilam na memória

refúgio entorpecido de mãos

e lábios, pele e suor

e a cantiga dos nossos gemidos

em uníssono

momento escaldante de prazer



saudade que agora imortaliza

e me inebria ao te recordar...



Maria Lucia (Centelha…

Mais que alguns poucos anos restantes na esteira dos dias

temos as estrelas a nos desafiar

a compor novos desabafos

catarse poética que escrevemos

na folha do tempo...



Por estarmos vivos

a transmutar a dor que devora

em riso alto

nos tornamos crianças

ante a luz de uma nova aurora...



Pela mesma razão dia e noite

sol e lua

verão e inverno…